No dia 14 de outubro de 2024, o Prêmio Nobel de Economia foi concedido a Daron Acemoglu, Simon Johnson e James A. Robinson, por seus estudos sobre como as instituições moldam a prosperidade das nações. Esse reconhecimento vai além da economia e toca profundamente a Geopolítica, ao explicar por que algumas regiões do mundo são ricas, enquanto outras permanecem presas à pobreza e à desigualdade. A contribuição desses estudiosos ajuda a entender a evolução histórica das desigualdades e as bases institucionais que alimentam o cenário geopolítico global atual.
O Papel das Instituições na Prosperidade das Nações
Acemoglu, Johnson e Robinson focaram em como as instituições — as regras, normas e estruturas políticas e econômicas de uma sociedade — influenciam o desenvolvimento. Suas pesquisas desvendam as razões pelas quais os 20% de países mais ricos são cerca de 30 vezes mais prósperos que os 20% mais pobres. Uma constatação crucial de seus estudos é que a persistência dessa diferença não pode ser explicada apenas por fatores geográficos ou climáticos, mas, sobretudo, pelas instituições sociais estabelecidas ao longo da história.
Esse enfoque nas instituições traz à tona um fator geopolítico importante: os sistemas políticos e econômicos adotados por cada país moldam sua posição global. As nações que adotam instituições inclusivas — aquelas que promovem o bem-estar coletivo, garantem direitos políticos e incentivam o desenvolvimento econômico sustentável — tendem a prosperar. Por outro lado, instituições extrativistas, que beneficiam uma pequena elite às custas da maioria da população, levam ao atraso e à fragilidade política.
A História Colonial e a Reversão de Riquezas
Um dos aspectos mais inovadores dos estudos dos laureados é a análise do impacto da colonização europeia a partir do século XVI. Eles identificaram dois tipos principais de instituições coloniais: as colônias de exploração, focadas na extração de recursos e na opressão dos povos locais, e as colônias de assentamento, nas quais os colonizadores buscavam criar uma nova sociedade para si mesmos.
Essa distinção tem consequências profundas na geopolítica contemporânea. As colônias de exploração, muitas vezes localizadas em regiões com alta densidade populacional indígena, estabeleceram instituições extrativistas, com pouca ou nenhuma inclusão política ou econômica para a população nativa. Esses países, hoje, enfrentam graves desafios em termos de desenvolvimento econômico, corrupção e instabilidade política.
Já as colônias de assentamento, que atraíam migrantes europeus dispostos a trabalhar e construir uma nova vida, formaram instituições mais inclusivas. Essas nações conseguiram criar sociedades mais prósperas, onde o desenvolvimento econômico e a estabilidade política floresceram, o que lhes permitiu ocupar posições geopolíticas de destaque no cenário global atual. Exemplos como os Estados Unidos e o Canadá se destacam como herdeiros dessa lógica de colonização.
Geopolítica e Instituições: Um Futuro Determinado pelo Passado?
Os estudos premiados também explicam como fatores como a densidade demográfica e a mortalidade de colonos influenciaram a criação de diferentes tipos de instituições nas colônias. Regiões onde as doenças tropicais tornavam a vida difícil para os colonizadores europeus, como grande parte da África e partes da América Latina, desenvolveram sistemas econômicos e políticos disfuncionais, que ainda hoje prejudicam o desenvolvimento.
Essas observações trazem à tona uma questão importante para a Geopolítica: as fronteiras e as estruturas sociais que foram desenhadas no passado colonial continuam a impactar diretamente o presente. Muitas das nações que sofrem com conflitos, pobreza e crises econômicas carregam o legado de instituições extrativistas que, mesmo após a descolonização, permaneceram enraizadas em suas sociedades.
Democracia e a Construção de Futuras Potências Geopolíticas
Outra conclusão importante dos laureados é que a democracia desempenha um papel central na capacidade de uma nação de desenvolver instituições econômicas fortes e inclusivas. Países que conseguiram democratizar suas estruturas políticas e promover a participação popular no processo decisório geralmente experimentam melhores resultados econômicos a longo prazo. Esse ponto tem implicações diretas para a Geopolítica contemporânea, onde regimes autoritários, muitas vezes sustentados por elites que se beneficiam de instituições extrativistas, enfrentam dificuldades para competir com democracias mais estáveis e desenvolvidas.
A Relevância Geopolítica dos Estudos dos Laureados
A compreensão de como as instituições moldam o destino das nações não é apenas uma questão de economia, mas de poder e influência global. Na arena geopolítica, as nações mais prósperas, com instituições fortes e inclusivas, ocupam uma posição de destaque e têm maior influência nos fóruns internacionais, como o G7, a ONU e o FMI. Já os países com instituições frágeis ou extrativistas muitas vezes ficam à margem, sofrendo com crises internas e dependência externa.
O exemplo da cidade de Nogales, citada pelos pesquisadores, ilustra claramente essa dinâmica. Localizada na fronteira entre os Estados Unidos e o México, Nogales é dividida em duas partes que compartilham a mesma geografia e clima, mas vivem realidades econômicas e políticas completamente diferentes. A parte americana, onde as instituições são inclusivas e a democracia está enraizada, é próspera e estável. Em contraste, a parte mexicana, herdeira de um sistema colonial extrativista, enfrenta desafios relacionados à corrupção, insegurança e pobreza.
Considerações Finais
O Prêmio Nobel de Economia de 2024 reconhece a importância das instituições na construção da prosperidade das nações, algo que vai além da simples economia e toca profundamente o campo da Geopolítica. Os estudos de Daron Acemoglu, Simon Johnson e James A. Robinson oferecem uma nova perspectiva sobre as desigualdades globais e mostram que o sucesso ou fracasso das nações está intrinsecamente ligado às estruturas políticas e econômicas que elas adotam. Compreender essas dinâmicas é fundamental para prever e, talvez, reconfigurar o equilíbrio de poder no cenário global nas próximas décadas.
Essas conclusões reforçam que o futuro geopolítico mundial será definido, em grande parte, pelas escolhas institucionais que cada país fizer. Investir em democracia, direitos políticos e instituições inclusivas pode ser o caminho para garantir não apenas a prosperidade econômica, mas também a relevância geopolítica em um mundo cada vez mais competitivo e interconectado.
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